Na concepção imatura e pouco informada de Clara dos Anjos, o amor era tal qual o retratado nas modinhas de viola, fazendo com que a moça acreditasse no poder redentor e superador de um amor idealizado, bem como na dignificação através do sofrimento amoroso. Essa visão ingênua corresponde em muito à construção do amor romântico. Clique aqui para ler um artigo da psicanalista Regina Navarro Lins sobre o mito do amor romântico.
“[...] Esse gosto [pelas modinhas] é contagioso e encontrava, no estado sentimental e moral de Clara, terreno propício para propagar-se. As modinhas falam muito de amor, algumas delas são lúbricas até; e ela, aos poucos, foi organizando uma teoria do amor, com os descantes do pai e de seus amigos. O amor tudo pode, para ele não há obstáculos de raça, de fortuna, de condição; ele vence, com ou sem pretor, zomba da Igreja e da Fortuna, e o estado amoroso é a maior delícia da nossa existência, que se deve procurar gozá-lo e sofrê-lo, seja como for. O martírio até dá-lhe mais requinte...”
Ao contrário do que possa parecer, Cassi Jones amava, ou acreditava que amava as mulheres que covardemente seduzia e deflorava. Sua concepção de amor, no entanto é muito diferente da de Clara e muito mais agressiva: para ele, "não se pode contrariar dois corações que se amam com sincera paixão". Era natural para ele objetificar as mulheres e vê-las como posse ou como um troféu a ser conseguido.
“Pensava em Marramaque, o audacioso aleijado, que queria se intrometer no seu amor por Clara. Pagaria bem caro. Despediu-se em breve e, lentamente, deixou-se ir a pé subúrbios abaixo. Eram estranhos aquele ódio e aquela obstinação. Cassi não era absolutamente, nem mesmo de forma elementar, um amoroso. A atração por uma qualquer mulher não lhe desdobrava em sentimentos outros, às vezes contraditórios, em sonhos, em anseios e depressões desta ou daquela natureza. O seu sentimento ficava reduzido ao mais simples elemento do Amor - a posse. Obtida esta, bem cedo se enfarava, desprezava a vítima, com a qual não sentia ter mais nenhuma ligação especial; e procurava outra.” (grifos nossos)
“O verdadeiro estado amoroso supõe um estado de semiloucura correspondente, de obsessão, determinando uma desordem emocional que vai da mais intensa alegria até à mais cruciante dor, que dá entusiasmo e abatimento, que encoraja e entibia [amolece]; que faz esperar e desesperar, isto tudo, quase a um tempo, sem que a causa mude de qualquer forma.” (grifos nossos)
Para Engrácia, o amor pela filha era protegê-la de tudo e de todos, cerceando sua liberdade e impedindo-a de socializar com pessoas de sua idade.
Para Salustiana, amar seu filho era ser conivente com suas vilanias e isentá-lo de qualquer responsabilidade. Leia mais sobre isso nas páginas dessas personagens.