“Célebre Leonardo Flores, que o Brasil todo conhece e viveu uma vida pura, inteiramente de sonhos”
Leonardo Flores é um poeta “porrista”, ou seja, está sempre de porre. Apesar da embriaguez constante, ele é descrito como sonhador, puro e íntegro, sendo completamente devotado à poesia. Quando Meneses sugere que venda alguns versos para Cassi, Leonardo mostra-se profundamente ofendido pois conquanto seja pobre e viva com dificuldades financeiras, acredita em sua arte e leva absolutamente a sério o mister de poeta. A indignação do poeta verte-se em um longo discurso cheio de exasperação e grandiloquência.
“— Por que tu [Meneses] me perguntaste se eu ainda fazia versos? [...]
— Tinha encomenda deles a fazer-te.
— O quê? - fez indignado Flores, erguendo-se, num só e rápido movimento, da cadeira, e deixando a xícara sobre a mesa. - Pois tu não sabes quem sou eu, quem é Leonardo Flores? Pois tu não sabes que a poesia para mim é a minha dor e é a minha alegria, é a minha própria vida? Pois tu não sabes que tenho sofrido tudo, dores, humilhações, vexames, para atingir o meu ideal? Pois tu não sabes que abandonei todas as honrarias da vida, não dei o conforto que minha mulher merecia, não eduquei convenientemente meus filhos, unicamente para não desviar dos meus propósitos artísticos? Nasci pobre, nasci mulato, tive uma instrução rudimentar, sozinho completei-a conforme pude; dia e noite lia e relia versos e autores; dia e noite procurava na rudeza aparente das coisas achar a ordem oculta que as ligava, o pensamento que as unia; o perfume à cor, o som aos anseios de mudez de minha alma; a luz à alegoria dos pássaros pela manhã; o crepúsculo ao cicio melancólico das cigarras –[...]”.
O tema da escrita, sobretudo da poesia, permeia a narrativa aqui e ali, sendo que um alto valor atribuído à “literatura verdadeira” e ao escritor de literatura.