Mãe de Clara, filha de escrava com o senhorio da casa, é uma mulher atrapalhada, inerte, passiva. É apresentada no capítulo V, quando proíbe o marido de convidar novamente Cassi Jones para frequentar a sua casa, logo após o fim da festa de Clara. Não gosta de sair de casa e delega à vizinha, Margarida, que saia eventualmente com a filha.
Engrácia dos Anjos é descrita como a essência da dona de casa do início do século XX. Ela é extremamente religiosa e reservada, de forma que se reclui por opção. Ela e Joaquim estão casados há 20 anos e ela cuida de todas as obrigações de casa.
“sua mulher não só não gostava de sair aos domingos, como em outro dia da semana qualquer. Era sedentária e caseira.”
Seu caráter mais passivo entra em choque com a necessidade de assertividade que surge com a presença de Cassi Jones em sua casa. Após a festa de Clara, é ela que determina que Cassi nunca mais entre ali.
“Todos se portaram decentemente [na festa], com respeito; mas uma coisa não quero mais [...] que esse Cassi venha mais aqui. Dona Margarida me disse que ele é, é um devasso. Você não vê como ele canta indecentemente, revirando os olhos... Não o quero mais aqui; se ele vier...
- Não é preciso você se zangar, Engrácia; não gostei também dele e não porá mais os pés na minha casa." (grifos nossos)
O amor materno sentido por Engrácia é definido pelo narrador como algo mórbido e nocivo, que deseja controle e proximidade da filha, a ponto de alienar Clara do mundo não preparando a jovem para enfrentar as provações e maldades existentes no mundo. Naturalmente, a obtusidade da mãe também será responsável por criar brechas para que Cassi se aproxime de Clara.
Todas as moléstias existentes, que a natureza cria, e os médicos, por desfastio, inventam, ela supunha poder ter sua filha. [...] O seu amor à Clara era um sentimento doentio, absorvente e mudo. Queria a filha sempre junto a si, mas quase não conversava com ela, não a elucidava sobre as coisas da vida, sobre os seus deveres de mulher e de moça.” (grifos nossos)
É essa mesma mãe que, mais tarde, quando uma crise de dor aguda nos dentes de Clara ocorre, não sabe que medidas tomar e fica aparvalhada diante da situação. Nesse momento, D. Margarida surge para organizar a situação e tomar as decisões paliativas necessárias. Essa dinâmica de relegar funções decisórias maternas para a vizinha ocorre diversas vezes ao longo da narrativa.